NA GRANDE VIAGEM (003)

Gente amiga

A obediência é uma coisa incômoda.

É uma pedra no sapato, um fragmento de cabelo cortado preso ao colarinho picando o pescoço; num pé 40 num sapato 39. Ninguém gosta dela.

Contudo a obediência é o contraponto da nossa voluntariedade, é o outro prato que diz o equilíbrio da balança. E se na vida cotidiana nossa visão cobre um trecho dentro do qual arrazoamos com segurança, há amplos trechos vizinhos a que essa mesma vida se liga, onde nosso juízo é pouco para ajuizar alguma coisa. E quando nossa vida, por alguma razão, sai do terreno bem conhecido e entra nesta amplidão desconhecida a coisa pega!

É essa a hora em que temos de acreditar que o mundo tem um bom destino e que há uma gerência do mundo. E aí, inteligente e confiadamente nos ligarmos a ela para darmos passos mais seguros em nossa vida particular.

É a hora de confiar e obedecer.

Veja este comentário que Emmanuel fez a propósito da obediência:

“Pela fé, Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia.” – Paulo. (Hebreus, 11:8.)

Pela fé, o aprendiz do Evangelho é chamado para uma sublime herança que lhe é destinada, assim como foi Abraão.

A convocação é para todos.

O grande patriarca hebreu saiu sem saber para onde ia...

E nós, chegando a nossa vez, devemos confiar e partir do mesmo jeito.

Não fazemos idéia de quais paradas faremos na viagem enorme, mas sabemos que o nosso objetivo é Cristo Jesus.

Quantas vezes seremos obrigados a pisar nos espinheiros da difamação? Quantas vezes subiremos a ladeira escarpada da incompreensão? Quantas torrentes de lágrimas nosso espírito chorará? Quantas nuvens estorvarão quando nosso pensamento quiser ir ao Céu, em longos trechos da estrada?

Sem resposta.

Porém, o importante é marchar sempre, fazendo dentro de si a própria redenção, sem esmorecer.

Hoje, é o suor direto; amanhã, a responsabilidade; depois, o sofrimento e, mais adiante, é a solidão...

Mesmo assim, é preciso seguir sem desanimar.

Quando não der para andar dois passos por dia, pelo menos saia do lugar, mova-se alguns milímetros.

O futuro se abre em planos de entendimento e bondade, iluminação espiritual e progresso na virtude.

Vamos subir, sem descanso, pela montanha escarpada:

- vencendo desertos;

- superando dificuldades;

- varando nevoeiros;

- eliminando obstáculos.

Na antiguidade, Abraão obedeceu a Deus sem saber para onde ia, e encontrou a realização da sua felicidade.

Agora, nossa vez, já obedeceremos a Deus conscientes do nosso destino bom e cientes de que o Senhor nos espera, depois do sofrimento, nas alturas luminosas da eterna ressurreição.


(Modificação do registro do falar.)